Crítica: Lies of P - Fábulas, mentiras e humanidade

Lies of P é mais do que um jogo; é uma obra de arte interativa que mergulha fundo no subgênero soulslike, enquanto reimagina o clássico conto de Pinóquio em uma atmosfera sombria e gótica.

Desenvolvido pelo estúdio sul-coreano Neowiz Games, o título combina mecânicas desafiadoras e uma narrativa rica, trazendo referências literárias e cinematográficas que ampliam a profundidade da experiência.

Desde o início, é impossível não traçar paralelos entre Lies of P e as obras de Carlo Collodi.

A história original de Pinóquio, já repleta de lições sobre moralidade e humanidade, aqui é desconstruída e transformada em algo muito mais trágico e complexo.

O jogo também ecoa a atmosfera opressiva de Frankenstein, de Mary Shelley, e as angústias existenciais tão presentes em O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

Em termos cinematográficos, sua estética steampunk e narrativa melancólica remetem a filmes como A Cidade das Crianças Perdidas (1995) e O Labirinto do Fauno (2006).

O cenário principal, a cidade de Krat, é um personagem por si só. Inspirada por metrópoles europeias do século XIX, ela combina o esplendor da era industrial com a decadência de uma sociedade tomada por autômatos (títeres) enlouquecidos.

A influência da arquitetura vitoriana é inconfundível, mas há toques de art nouveau que enriquecem o visual.

A ambientação lembra o estilo sombrio de Yharnam, de Bloodborne, mas adiciona um toque único com seu uso criativo de engrenagens e maquinários como elementos narrativos e visuais.

Cada rua, beco e mansão de Krat conta uma história. A atmosfera é impregnada de mistério, enquanto notas e diários espalhados pelo mundo expandem a história de maneira orgânica.

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O combate de Lies of P é meticulosamente projetado, desafiando o jogador a dominar suas mecânicas e a entender os padrões dos inimigos.

A inspiração nos jogos da FromSoftware é evidente, mas o título adiciona suas próprias nuances, como o sistema de mentiras.

Esse sistema influencia diretamente o curso da narrativa e os finais disponíveis, adicionando um elemento moral que vai além da simples escolha de ser bom ou mau.

A possibilidade de combinar armas de forma criativa é um dos pontos altos.

Você pode misturar lâminas pesadas com empunhaduras leves, criando combinações únicas que se adaptam ao seu estilo de jogo.

Além disso, o braço mecânico de P oferece habilidades especiais, como arpéus e lançadores de fogo, que são úteis tanto em combate quanto na exploração.

Em Lies of P, você assume o papel de P, um títere em busca de respostas e, talvez, de sua própria humanidade.

A história é uma viagem sombria que explora temas como a moralidade, a vontade própria e o sacrifício.

As escolhas feitas pelo jogador ao longo da jornada – particularmente as mentiras contadas – afetam não apenas os personagens secundários, mas também o destino de P e o desfecho da história.

Há ecos de Blade Runner (1982) no questionamento sobre o que significa ser humano.

Assim como os replicantes do filme de Ridley Scott, P é confrontado por sua própria natureza e por sua luta para superar as limitações impostas pela sua criação.

Lies of P não é apenas uma homenagem aos soulslike, mas também uma obra que estabelece sua própria identidade.

É um jogo que recompensa a paciência, a habilidade e a curiosidade, ao mesmo tempo que desafia o jogador a questionar suas próprias escolhas.

Para aqueles que buscam uma experiência desafiadora e imersiva, este é um título indispensável.